Jornal compara Juventus com o Divino da novela

Conheça o Divino Futebol Clube da vida real

Juventus, tradicional time da Mooca, tem personagens e histórias que lembram o clube fictício de novela(Juliana Alencar)juliana.alencar@diariosp.com.br
A equipe do Juventus da Mooca sob o comando do técnico Luiz Carlos Ferreira

Se existe um rival à altura do Divino Futebol Clube, time que revelou o craque Tufão em “Avenida Brasil”, ele está sediado na Zona Leste de São Paulo, logo ali na Mooca. O Juventus, que domingo subiu para a Série A-2, pode não estar nos seus dias de glória – assim como o clube fictício –, mas mantém a mesma torcida apaixonada da novela das nove.
“Nós somos um time tradicional. Independente das dificuldades, conseguimos manter esse amor pelo clube. A comunidade inteira participa”, defende o diretor de futebol Geová Francisco de Oliveira, de 60 anos, um dos sócios mais antigos – e ativos – do clube.
O DIÁRIO esteve em uma das sedes do Juventus numa tarde de uma segunda-feira. A fachada do Conde Rodolfo Crespi, o acanhado estádio da rua Javari, chega a lembrar a da sede do Divino F.C. Em vez de letreiros imponentes, uma pintura desgastada na parede informa aos desavisados que atrás dos muros grená fica a casa do time mais popular do bairro. E a casa, também, dos atletas que o defendem.
Romarinho, de 18 anos, é nascido e criado no Ipiranga, mas optou por morar nas instalações do clube. Destaque na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2012, é juventino desde os quatro anos. Já era adolescente quando viu sua mãe, camareira do time, ganhar um emprego na sede para acompanhá-lo de perto. “Cresci jogando aqui, sou muito bem tratado”, conta ele, que subiu ao grupo profissional em fevereiro deste ano. “É um motivo de orgulho. O Juventus faz parte da vida da minha família.”
papo de boleiro/Já são 16h quando o técnico do Juventus começa o treino da tarde. Luiz Carlos Ferreira foi contratado no começo do ano com a missão de subir o time para o grupo de acesso do Campeonato Paulista – eles conquistaram a vaga anteontem. O Divino já está na disputa da segunda divisão do Campeonato Carioca.
“Um clube com a história do Juventus não pode ficar nessa situação. O lugar dele é entre os grandes”, opina Ferreira, que reconhece, no entanto, as limitações financeiras do clube.
A ficção, claro, é mais generosa que a realidade. Ao contrário do Divino, o Juventus não tem um patrocinador de camisa. Para conseguir os uniformes dos atletas, fechou uma parceria com um fornecedor de material esportivo, a Joma.
Sem grandes investidores, o Juventus não tem dinheiro disponível em caixa para fazer grandes contratações – caso parecido com o Divino. Tanto é que a folha de pagamento é modesta – o maior salário entre os jogadores é do lateral Elvis, campeão da Copa do Brasil em 2005 pelo Santo André.
Estima-se que ele ganhe cerca de R$ 10 mil. O jogador mais experiente do clube, aliás, é um dos poucos que mora fora da concentração. Tony, outra indicação do técnico, também não mora na Javari. Com a mulher e o filho, fica hospedado num hotel bem próximo dali. Quando o treino acaba, pega o rumo de casa sem enfrentar o bandejão no refeitório.

Já era o fim de treino e a repórter entra no campo para falar de novela com os atletas. Roni lembra que um dos craques do Divino leva o seu nome. “Aquele que é o filho do presidente”, cita. Mal sabia ele que o xará, vivido por Daniel Rocha, é o gay enrustido da novela. Os colegas fazem piada.

O filho de Diógenes (Otávio Augusto) continua no centro da discussão quando pergunto se, na vida real, dá para jogar com o filho de presidente de clube. “Se o cara for bom, até dá. Mas se for perna de pau...”, argumenta César. E se ele for filho de craque?, questiono, citando Jorginho (Cauã Reymond), filho de um ex-ídolo do clube, Tufão (Murilo Benício). O goleiro Túlio, que já defendeu o CFZ, clube do craque Zico, lembra de Bruno Coimbra, herdeiro da lenda do Flamengo: “É muita cobrança. Tem de aguentar as comparações”.

Sorte do grupo que alí ninguém é filho de craque ou de presidente. Sem costas quentes, eles precisam mesmo é mostrar serviço. Tiaguinho, artilheiro do Juventus na temporada, pensa em alçar voos mais altos. “Quero chegar na primeira divisão”, vislumbra. E os sonhos da ficção se repetem.(Diário deSP)

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